Minha querida Tia Maria,

Só hoje consegui vir expressar-me para ti, a tristeza que me invadiu e a revolta após ter-te visto partir foi imensa e a minha sensibilidade anda a flor da pele, ando fugida do mundo, tenho-me isolado muito de tudo e todos, e não consegui refugiar-me na escrita antes.
A tua partida foi a seguir à da avozinha Olinda a que mais me custou, a que deixou mais cicatrizes, lagrimas derramadas e uma saudade enorme... Sabia que estavas muito doente, sabia que era a merda daquela doença silenciosa da moda (cancro), sabia que as hipóteses de sobreviveres eram poucas, sabia que estavas a sofrer muito pelas palavras que com dificuldade ainda me dizias, pelo aperto de mão que me deste no ultimo dia da tua vida, em que estive do inicio ao fim a teu lado, pela respiração ofegante que tinhas, pela tua pouca fome, aquele olhar de despedida que me fizeste, foram tudo sinais do imenso sofrimento em que te encontravas, eu sabia por um lado que partires era o melhor pelo menos não sofrias mais, mas ter que encarar isso custava-me horrores, não queria e às vezes ainda dou por mim a questionar-me se é mesmo verdade, prova disso foi a minha não reação quando vi o teu corpo, a tua bela cara com um ar sorridente, em tons de branco como gostavas, o teu cabelo penteadinho, sei lá parecia um sonho, mas quando os gritos e os choros sufocantes começaram a surgir dei conta da realidade, quando o tio padre António disse : "é notável que as sobrinhas que mais estão a sofrer é a Vânia e a Soninha, nunca tivera vergonha da tia e estiveram sempre por perto" depois destas palavras meu coração encheu-se de um vazio e dei por mim a rebentar em lagrimas, as que não tinha chorado antes por pensar estar a sonhar.
Minha querida tia Maria, foi das melhores mulheres que conheci, das melhores pessoas com quem partilhei momentos de pura felicidade, admiro-a pela guerreira que era, por soltar "uns puta que pariu e caralho" e não se importar minimamente o que as pessoas diziam ou criticavam. Nunca usou cremes e perfumes, nunca precisou de muita roupa, calçado e outros caprichos para ser feliz, aliás atrevo-me a dizer que foi muito mas feliz que maior parte de nós que nos preocupamos demasiado com a aparência. É por toda a sua bondade, humildade e simplicidade que a considero a melhor tia do mundo, e faz-me tanta mas tanta falta. Que saudades eu tenho de chegar a sua casa e chamar por si, de a ouvir "então cachopa, estas magra come para a frente" ou então já nos últimos dias, ir visita-la ao tio Manuel Luís e receber-me sempre com uma simpatia incrível independentemente das suas dores ou preocupações, nunca mais me esqueço que mesmo você sabendo que estava mal queria ajudar os tios com as batatas, querer que eu lanchasse consigo, aperceber-me que não queria que fosse embora, sei lá foram tantos momentos partilhados juntos que agora morro de saudades e de uma dor enorme de saber que nunca mais a vou ver, pelo menos tão cedo.
Mas sei que está bem , onde quer que esteja junto da minha mamã, da avozinha, do avô , da tia Zita, todos aqueles que você ama..
Acompanhei todo o seu percurso desde a descoberta da doença e apesar de ter sofrido muito pelas suas mudanças dia apos dia, não me arrependo despedi-me de si com a consciência tranquila que mais não poderia ter feito, que estive muito presente, que lhe dei força e alegria, que a tranquilizei em muitos momentos e que a acarinhei da melhor forma que sabia. E você sabe o quanto gostava e gosto de si.
Amo-te eternamente Tia Maria, és a melhor do mundo.
Até já.


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